terça-feira, 27 de janeiro de 2015

É indescritível o que fizeste. É como se tudo não passasse de um sonho idiota. Um sonho só meu, sem qualquer correspondência na Verdade. Morro a cada dia com a consciência da irreversibilidade. Mirram-se-me as entranhas, definho, desejo silenciosamente que tudo acabe. Que algo me leve e faça esquecer a ilusão. Tudo me parece tão fútil agora, todos os encontros e desencontros, todos os momentos, mais e menos felizes, como se nada tivesse significado verdadeiramente, nada do que vinha vivendo até àquele dia que acreditei ser o primeiro do resto da minha vida. Como se nada tenha acontecido realmente. Acordo numa névoa, não consigo distinguir o que sonhei do que vivi, E cansada.. tão cansada! como se o mundo inteiro repousasse em mim todas as noites. Não tenho mais força, não há mais cordéis a puxar, não há mais segredos nem crenças nem ideais nem esperança. É só uma contagem decrescente até ao fim. Uma viagem sem lógica, sem rumo ou horizonte. Ser, apenas. Sem saber que somos, ou quem ou como somos, inconscientes, despidos de tudo que faz de nós humanos. Como o bacalhau.