Sigo o teu nome por estradas velhas, persigo-te assim, por caminhos antigos e traiçoeiros, saltando-te pedra a pedra, a querer aparecer-te à porta, ao portão, a esperar-te escondida com o azedume do assédio a fervilhar dentro de mim. Quero agarrar-te a cara com as mãos, à tua saída, e fixar-te as feições espantadas, o olhar surpreso, o maxilar rígido e desconfiado. Sigo-te à tua morada, entreteço em mim tudo o que de ti sei, corro atrás de ti com a curiosidade de uma criança com o seu franzir de sobrolho, indagante, sempre a virar as esquinas atrás de balões e de seres etéreos. Guardo de ti tão pouco: um amor que não conheço arrastado pelo chão da minha casa, sabedorias incompletas e uma ternura brevemente derramada numa madrugada qualquer, soprada como um segredo. Sinto-te, que queres?, como se me respirasses aqui e agora para o ouvido e isto são coisas que a ciência não explica. Mas sigo-te sem fé, aos ressaltos e renitente, como esse gaguejo subtil que te trai quando te preparas para me dizer a verdade e que eu ao princípio confundia com um defeito da ligação, que parecia prolongar-te as sílabas no ar. Tens qualquer coisa de sino de igreja que avisa, que insiste e não perdoa, mas que ao mesmo tempo redime. E uma violência feroz que às vezes te escorrega pelas palavras, sem dares conta, porque o que mais queres é ser meigo. E eu, olha, eu a dar o teu nome a este documento de texto e a pôr em baixo a tua fotografia, se a tivesse. E então ninguém te poderia confundir com um filme, com um argumento inventado por outros. Tu és um caminho; um caminho por onde vago à toa, acossada pela posse e pelo vazio, sem final feliz à espreita. Mas também és uma espécie de verdade, uma verdade não comprovada que me rasa a pele e me amarga os sonhos, e por isso hoje não finjo que esta estória não nos pertence.
Não é meu, é daqui, mas podia bem ser... não pela excelência da escrita, que dessa estou longe, mas pelas verdades que encerra.